São José aguarda instalação de delegacia da mulher
A violência contra a mulher é um problema antigo que vem ganhando destaque entre as preocupações do poder público nas últimas décadas e conquistou a atenção da população com a sanção da Lei Maria da Penha, em agosto de 2006. A Lei busca coibir a violência doméstica e familiar contra as mulheres e estabelece medidas de assistência às vítimas. E veio em boa hora: em 2007, foram feitos 2.226 atendimentos nas delegacias de São José, envolvendo todos os tipos de violência contra a mulher: homicídio, assédio sexual, estupro, extorsão, lesão corporal e outros. Em 2008 foram 2.218 atendimentos e, apenas nos primeiros quatro meses de 2009, foram 645 os casos atendidos.
Mas não basta haver mecanismos legais que protejam a mulher. É necessário oferecer um atendimento especializado, que acolha a vítima de violência sem fazer com que ela se sinta julgada. Esse atendimento é oferecido nas delegacias especializadas de atendimento à mulher. Na Grande Florianópolis, apenas a Capital conta com um estabelecimento desse tipo, mas São José já está se mobilizando para instalar essa estrutura no município. A expectativa é de que a delegacia seja inaugurada até dezembro, se o processo burocrático for rápido.
A importância do atendimento especializado é destacada pela vereadora Méri Hang, que participou de um debate na TV Câmara de São José sobre o tema. “A mulher chega à delegacia fragilizada e, de repente, um policial despreparado pode ser um segundo agressor.” O delegado Nivaldo Claudino Rodrigues, diretor de Polícia da Grande Florianópolis, confirma a opinião de Méri. “Muitas vezes há chacota à mulher, quando, na verdade, ela tem que entrar na delegacia de cabeça erguida. Ela não pode ser vítima pela segunda vez.”
O psicólogo policial Paulo Henrique de Andrade Pinto, da 6ª Delegacia de Polícia da Capital, ressalta o papel da capacitação dos policiais que irão trabalhar com vítimas de violência doméstica. “A mulher registra um boletim de ocorrência agora, depois de um mês registra outro. Se é uma pessoa que não está capacitada, vai dizer que ela gosta de apanhar. Não tem o entendimento de que é difícil, para a vítima, romper esse laço, que ela se tornou dependente do agressor, está com a auto-estima baixa, isolada da convivência familiar.” A delegada Sandra Mara Pereira, da 6ª Delegacia de Polícia de Proteção à Mulher, Criança e Adolescente da Capital, complementa o raciocínio de Paulo Henrique: “O importante é a acolhida da vítima. Ela está fragilizada, seus filhos muitas vezes estão com o marido, muitas vezes ela ama o marido-agressor. Muitas vezes elas não vão à delegacia querendo que se prenda o marido. Elas querem que cesse a violência.”
A delegacia de proteção à mulher, além de resolver questões relacionadas a crimes, também é um centro de referência para as vítimas. Por meio da delegacia elas podem ser encaminhadas para outros serviços de assistência. Enquanto não é instalado um estabelecimento policial especializado em São José, a delegada Sandra Mara orienta que as vítimas de violência doméstica procurem a delegacia da região onde moram. “Se ela procurar a delegacia da mulher de Florianópolis, iremos encaminhá-la para a delegacia de sua cidade, porque são comarcas diferentes, mas costumamos fazer a ponte com o delegado do bairro onde ela mora.”
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