São José, Santa Catarina, Brasil
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Edição Julho | 2012
Ano XVIII - N° 194
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Reflexões de um funcionário público

Paulo Henrique estava com 59 anos de idade quando tudo aconteceu e modificou para sempre a sua vida. Um funcionário público de carreira de um órgão público da Capital, com alguns vícios gerados pelo cotidiano burocrático e aparente. Ele estava bem próximo de sua aposentadoria.
Trabalhava há anos no gabinete de um funcionário de alto escalão. Sempre em toda a sua vida ponderou a regra do mais hábil e do mais esperto, levando aos últimos patamares os princípios legais. Apesar de nunca ter sido corrupto, muitas vezes deixava que as coisas acontecessem sob seus olhos.
Naquele dia, bem no início de suas últimas férias, ao acordar pela manhã bebeu o tradicional gole de café e foi meditar em frente ao jardim de sua casa de praia, aliás, como sempre fazia nos feriados e finais de semana. Sentiu uma sensação diferente pensando nas coisas que aconteceram durante toda sua vida profissional. Seus pensamentos viajaram feito um raio no ar. Sentiu um cheiro de laranja alcançar o seu nariz. Por instantes, ficou assustado, pois no jardim não havia pés de laranja. O cheiro estendia-se até o outro lado da casa, local para onde extasiado foi, justamente, verificar se era o seu velho pai que poderia estar degustando a espécie.
Não era, pois seu pai já havia falecido fazia cinco meses e o seu pensamento viajava no tempo. Difícil foi controlá-lo. Ora por que teria imaginado que seu pai estaria ali, se ele já tinha morrido. Procurou pensar em coisas boas. Lembrou da secretária que trabalhou no gabinete.
Novamente os meios levaram a pensar em outros assuntos, muito mais desgastantes. Pensou na possibilidade de estar apenas sonhando. Saiu de onde estava e foi até a parte externa do jardim. Passou em frente a um canteiro de rosas. Naquele momento, teve a sensação de estar sendo observado. Nunca tinha tido uma sensação tão forte como aquela. Olhou para os lados, pois talvez pudesse ser sua esposa. O mais estranho é que ele sentiu uma respiração ofegante, que saía do local. Será que alguém respirava. Escutou uma voz suave que saiu do fundo e disse: Sabemos tudo sobre você! Inclusive que você deixou o prefeito, daquela cidade, desviar a merenda escolar. Você sabia de tudo, mas não disse nada a ninguém.
O fato alegado era verídico, só ele não sabia o porquê daquele questionamento agora, depois de anos. O fato real é que, alguém falava com Paulo Henrique, em pensamento. Novamente, a sensação de estar sendo observado. Outra vez, alguém falou com Paulo dizendo: - Sabe aquela oferta de propina que o servidor recebeu? Você ficou bem quieto. Lembre-se das trocas de favores os quais prejudicaram toda uma equipe política, e a compra de votos, também foi uma outra ocorrência. Tudo isso está registrado aqui.
Paulo respondeu para si mesmo, muito zangado:
Sou um homem honesto, nunca participei de nada, nunca roubei nada, por que está me questionando estas coisas? Foram os outros que fizeram tudo isso?
Você, Paulo Henrique, acha que não fez nada, como se apenas os atos fossem condenáveis. Fique sabendo que também a omissão leva o homem ao erro, ainda que em menor grau. Por tudo o que não fez ou deixou de dizer é que está agora, neste momento, degustando todo o seu passado. Lembre-se de que existem muitas pessoas no mundo sofrendo pela fome e pela injustiça, por causa unicamente da omissão. E é por causa delas que quem age fica, às vezes, impune.
Algumas coisas vieram à tona, a primeira era o fato de ter tido vergonha de si mesmo, por saber que alguém sabia das coisas que ele deixou de fazer.
Após toda essa conversa Paulo chegou à conclusão de que estava falando consigo mesmo. Sua consciência, ou talvez inconsciência, falou bem mais alto. Ele teve medo por saber que alguém sempre esteve lhe observando. Talvez, por isso é que imaginou seu pai ali, no local, pois foi ele quem lhe ensinou os mais sublimes sentimentos de sabedoria. E, sobre aqueles pensamentos que você tem quando está fazendo algo errado e que você acha que ninguém vai ver.
Paulo refletiu muito e concluiu que todos estes longos anos de trabalho serviram para mostrar a ele que nem sempre é completa a boa ação formada a partir daquilo que foi feito, mas também, por aquilo que deixou de fazer.
Pelo menos, os próximos anos de sua vida serviriam para fazer dele um novo homem, que vigia em si os anseios de alguém que perdeu muito tempo olhando para o relógio deixando que as horas fizessem dele um instrumento da omissão.

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