São José, Santa Catarina, Brasil
28 de abril de 2024 | 20:45
Edição Outubro | 2011
Ano XVII - N° 185
Receba nossa newsletter
e-mail
Pesquisar
       
Home
Links úteis
Fale com o Oi
Edições do Oi


Editorial
Parecer
Da Redação
Cidade
Especial
Geral
Educação & Cultura
Tradição
Esportes
Saúde
Social
Colunistas
Política



Veja também:
Notícias vereadora Méri Hang
Vereador Moacir da Silva
VI... OUVI... ESCREVI... Luiz Mar Sória
FIB – Felicidade Interna Bruta Paulo de Tarso Guilhon*

Colunistas
 
O filho bastardo Walmir Espindola Filho
Clique na imagem para ampliar.
Foi exatamente no ano de 1830, que alguns navegadores portugueses saíram de sua terra natal, em busca de um outro lugar a fim de saciar a sede de aventura. Por vários dias e noites, atravessaram a imensidão dos oceanos até aportar em uma Ilha, chamada Santa Catarina. Ao verem a exuberância da ilha, saíram os homens à procura do que conhecer. Chegaram até um povoado, chamado Santo Antônio de Lisboa, onde moravam algumas famílias nativas, de origem açoriana. Numa dessas adoráveis famílias lusitanas vivia Angelita, mulata, filha de criação, no auge de sua beleza física, com 19 anos. Um dos navegadores, de nome Santiago, cheio de vitalidade sentiu-se atraído pelos contornos morenos da mestiça.
Foi sobre o brilho pujante da lua que os dois se conheceram e mantiveram, dias após, o vigor de uma relação sexual. O jovem espadaúdo, na ânsia de seduzi-la, fez promessa de amor eterno e lhe deu um anel, em forma de coração partido. Ele ficaria com uma parte e ela com outra. Cada anel possuía o desenho da metade do coração. Disse Santiago:
Olhe! Pegue este anel, e coloque-o na sua mão esquerda. Agora, veja aqui na minha mão, eu tenho a outra parte. É um coração quebrado. Este é o sinal de que lhe amo muito, ele trará sorte para nós dois. Logo, seremos duas pessoas em uma só, e nossa existência independente do que aconteça, continuará.
Está bem, Santiago, você me ama mesmo.
Embriagada pela paixão e pelas palavras sedutoras do jovem, Angelita se entregou de corpo e alma ao seu primeiro e único homem.
Sorte ou azar, Angelita engravidou e, após nove meses nasceu Jorge. Santiago, viajante do mundo, partiu e deixou a mulata com seu filho Jorge ao relento do destino.
Por onde passou, Santiago levou com ele mesmo, apenas as lembranças do corpo moreno coberto de areia, que possuiu sob o testemunho do mar.
Os ventos sopraram e num dia inesperado, ele voltou para aquele mesmo local, onde há vinte anos havia deixado seu filho bastardo. Sem interesse nenhum e, já esquecido do que outrora ocorrera, o homem sentou à beira de um bar, e pediu ao atendente que lhe servisse um bom vinho. O moço, de olhos escuros como sua pele, olhou para o freguês e disse:
O senhor vai beber e pagar depois de vinte anos?
Santiago sem muito entender o que estava acontecendo perguntou:
O que você disse, mulato? Eu tenho dinheiro, pagarei agora.
O mulato retrucou:
Então, beba todo o vinho deste bar para que apague de sua memória o que você deixou, para trás, meu pai.
O quê. Não sou seu pai. Não se enxerga...Você é um negro.
Sim, sou negro e também seu filho. Se você não se lembra de mim, seguramente deve lembrar de minha mãe Angelita, ou pelo menos do corpo belo e moreno que ela tinha.
Você é o filho de Angelita ?
Sim, e também sou seu filho.
Com você pode falar assim de mim, se nem ao menos você me conhece?
Lembro-me de você, porque sempre foi lembrado por minha mãe, até o último dia de sua vida. Ela me fez lembrar de sua face e do caminho por onde você passou. Olhe para esse anel que você usa até hoje, e repare para este outro que eu estou usando. Lembra-se de algo? Lembra-se das promessas e juras de amor que você fez à minha mãe, somente para tê-la como amante? Pois é, acho que as juras que você fez a ela, um anjo, lá no céu, escutou e disse: Amém.
Sua mãe morreu?
Morreu, mas antes deixou comigo o anel que você deu a ela.
Santiago, num ato de desolação e vergonha disse ao moço:
Desculpe, você realmente é o meu filho!
Para ele, parecia que o mundo caia sobre sua cabeça, o arrependimento foi maior do que seu preconceito. A aventura que ele pensava já ter sido apagada, pelo transcurso do tempo, ainda estava viva e encarnada na pessoa de seu filho.
Minha mãe morreu, já faz cinco anos. Deixou-me entretanto, o grande legado de um ser humano, a virtude, o respeito e o perdão, que todos nós devemos ter em nossos corações. E, a vontade de conhecê-lo, meu pai, foi maior de qualquer outro sentimento que tive no decorrer desses longos anos.
Os dois se abraçaram comovidos. Formou-se entre eles, um turbilhão de sentimentos, resumidos em uma única palavra: pai.

Walmir Espindola Filho
Escritor
walmirespindolafilho@hotmail.com

Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player

 

Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player

 
 
COPYRIGHT 2009 • TODOS OS DIREITOS RESERVADOS • É PROIBIDA A REPRODUÇÃO DO CONTEÚDO DESSA PÁGINA EM
QUALQUER MEIO DE COMUNICAÇÃO, ELETRÔNICO OU IMPRESSO, SEM AUTORIZAÇÃO ESCRITA DO OI SÃO JOSÉ ON LINE.