Todo esporte é um desafio. O atleta desafia seus próprios limites e o desempenho dos adversários, buscando melhorar sua performance e superar recordes. Agora imagine que os seus limites físicos são maiores do que o considerado “normal”. A superação exigirá ainda mais esforço e força de vontade, não? Esse é o desafio enfrentado diariamente, na pista de atletismo e na piscina, pelos paratletas da Associação de Deficientes de Santa Catarina (APEDESC), com sede em São José. Cinco deles estão classificados para a 1ª Etapa Nacional do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo, Halterofilismo e Natação, que vai ser realizada de 28 a 30 de maio em Fortaleza (CE).
Quatro dos atletas disputarão as provas de natação: Anselmo Alves, Roberto Alcalde Rodriguez, João Carlos Rodovalho Costa e Romildo Ramos Santos. Roberto, atual campeão mundial júnior e integrante da seleção brasileira permanente, é um dos que tem grandes chances de conseguir uma medalha.
O quinto integrante da equipe josefense é Lucas Ferrari, de 20 anos. Ele alcançou o índice de 12,99 s na prova de 100 metros rasos e irá representar São José no atletismo paraolímpico, em Fortaleza, “correndo o risco” de ser chamado para a seleção brasileira. Lucas teve o lado direito do corpo paralisado em decorrência de um traumatismo craniano quando tinha sete meses de vida, e encontrou no esporte uma ferramenta para melhorar a sua coordenação motora: “Eu fiz oito anos de reabilitação quando era criança, mas acabei saindo porque não estava mais gostando. Quando comecei o atletismo, no ano passado, meu braço e minha perna melhoraram muito. Minha perna era fininha, eu quase não mexia.”
A melhora física é apenas um dos motivos que fazem com que Lucas vá todos os dias até a Udesc, em Coqueiros, treinar: “Antes eu não me aceitava como era, não me via daquele jeito. Hoje eu penso mais positivamente, penso que posso melhorar dentro e fora do treino.” A atividade virou uma paixão: “Criei um gosto pelo esporte e quero melhorar cada vez mais, baixar meu tempo. Hoje o atletismo faz parte da minha vida.”
O vice-presidente da Apedesc, Geovane Peres, de 22 anos, também encontrou no atletismo um meio para aprimorar sua qualidade de vida. Com paralisia cerebral, ele conta que seu desempenho tem melhorado: “Antes eu andava 50 metros e caía muito; hoje, não caio muito. Claro que, quando competimos, queremos ganhar, mas eu pratico o esporte mais pela melhora física e pela oportunidade de conhecer e conviver com pessoas novas, de participar de campeonatos.” O rendimento no esporte reflete-se no dia a dia. “Antes, eu sempre imaginava: ‘será que vou conseguir fazer alguma coisa ou vou só estudar e voltar para casa?’ Hoje, sei que vou tentar, porque o esporte me deu vontade e confiança. Hoje, eu ando e faço coisas que não imaginava que poderia fazer sozinho”, conta Geovane.
A melhora sentida leva os atletas a tentarem estender esse benefício a outras pessoas. Toda quinta-feira, Geovane leva uma colega até a Udesc para praticar atividades físicas: “Me sinto muito bem por poder ajudar alguém. Se eu não a trouxesse, seria difícil para ela vir.” Já Lucas está estimulando um colega com a mesma deficiência que ele a começar a treinar atletismo. E, enquanto isso, busca um patrocinador – um desafio difícil, comum a todos os atletas.
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